Mitos e verdades de Indiana Jones (Parte 1/4)

INDIANA JONES E OS CAÇADORES DA ARCA PERDIDA 

>>>MAPA DA MINA Lançamento: 1981 Harrison Ford tinha: 38 anos Bilheteria: US$ 384 milhões Sinopse: Em 1936, no Peru, Indy encontra uma relíquia e rola a famosa fuga da bola gigante. De volta aos EUA, ele descobre que os nazistas estão procurando a Arca da Aliança para transformá-la numa arma poderosa. Mas nosso herói vai achá-la antes deles!

Cavaleiro e templário: Indy sobe no cavalo para tirar a Arca da Aliança dos nazistas

No começo do filme, Indy encontra o Templo dos Guerreiros Chachapoyas, que conta com dardos venenosos automáticos, mecanismo de autodestruição e até uma bola gigante de pedra. Existem ruínas assim?
Não. Quando uma "cidade perdida" é encontrada, geralmente ela está sob séculos de detrito, o que diminui a chance de que alguém seja surpreendido por armadilhas milenares em pleno funcionamento. Além disso, paredes que se movem, chãos que se abrem e assemelhados nunca existiram. "E, se existissem, certamente a civilização que os construiu se vangloriaria disso e a notícia teria chegado até nós", diz Winifred Crea­mer, da Northern Illinois University, autoridade em arqueologia da América Central.

No livro "Pyramids", o arqueólogo egípcio Zahi Hawass conta que muitos esqueletos foram encontrados em tumbas de faraós. Mas não se tratava de invasores mortos por armadilhas, mas sim operários e sacerdotes que eram enterrados vivos, seguindo a tradição. Além disso, quase nunca há tesouros a serem encontrados: ladrões costumam anteceder arqueólogos, às vezes em séculos. Ou seja, tudo fruto da imaginação do roteirista Lawrence Kasdan. Que, aliás, se inspirou em uma história clássica do Tio Patinhas.

FACES DO HERÓI

Corrida maluca: armadilhas elaboradas como essa só existem na ficção Há vários candidatos ao posto de inspirador de Indiana Jones, mas nenhum nome foi confirmado por Steven Spielberg ou George Lucas, "donos" da série. Um dos mais fortes é Roy Chapman Andrews (1884-1960), naturalista americano que fez uma série de expedições no interior da China e da Mongólia e foi o primeiro a levar um ovo de dinossauro para um museu. Também viu a morte de perto em incidentes com baleias, tubarões, cobras e bandidos chineses. Outro forte candidato é o também americano Hiram Bingham (1875-1956), historiador que redescobriu Machu Picchu, em 1911. Mas a história mais curiosa é de Percy Harrison Fawcett (1867-1925?), militar britânico. Após uma vida repleta de aventuras, resolveu buscar uma cidade perdida na Serra do Roncador, no Mato Grosso, e nunca mais foi visto. Em 1951, o sertanista Orlando Villas Boas chegou a divulgar que havia encontrado seus ossos, mas tratava-se de um engano. Uma dúzia de expedições já falharam em encontrá-lo e mais de 100 pessoas já morreram tentando. Um trabalho para Indiana Jones?

E os tais chachapoyas existiram?
Sim. Os chachapoyas eram um povo da Amazônia peruana que foi assimilado pelo Império Inca. Sabemos pouco sobre eles, filtrado por relatos dos incas e dos conquistadores espanhóis, mas dá para dizer com certeza que sua arquitetura não tinha nada a ver com o que é mostrado no filme. Há, no entanto, um episódio histórico que inspirou a relíquia que Indy encontra.

E o que é essa "arca perdida" que todos estão caçando?
É a Arca da Aliança entre Deus e o povo de Israel, mencionada diversas vezes na Bíblia. Ela contém as tábuas com os Dez Mandamentos, que Moisés ganhou de Deus no Monte Sinai, além de outras relíquias lembrando os 40 anos de êxodo dos israelitas. Segundo o livro sagrado, a arca facilitava um bocado a vida no deserto: abria rios, queimava galhos velhos e outros objetos obstruindo as estradas, e as faíscas que brotavam entre os dois querubins de sua tampa matavam serpentes e escorpiões pelo caminho. Os filisteus acharam que tinham se dado bem quando a capturaram (1 Samuel, 4-6), mas foram punidos com camundongos e tumores (em algumas traduções, hemorróidas) e logo a devolveram.

O último endereço conhecido da arca teria sido o Templo de Salomão, em Jerusalém, onde teria ficado até a invasão da Babilônia, em 586 a.C. Há quem ache que ela foi escondida dentro do Monte do Templo ou no templo judeu de Elefantina, no Nilo. Ou que ela foi removida para a Etiópia ou roubada por etíopes. Há ainda a tese de remoção divina. No filme, os nazistas buscam a peça no meio do deserto egípcio.

Os nazistas fizeram alguma expedição arqueológica procurando artefatos bíblicos?
Não, até porque não se ligavam na tradição judaico-cristã. Mas tinham uma obsessão: achar artefatos pré-históricos que provassem as alopradas teorias de Hitler sobre os primórdios da humanidade. A principal delas falava sobre uma certa raça de gente loira, alta e de olhos azuis, os arianos. Eles teriam criado a civilização e seriam os antepassados dos alemães (ver texto "Tradições inventadas").

Continua...

Fonte: http://revistagalileu.globo.com